Uma análise (muito pessoal) de ‘Bolero de Ravel em Nova Roma’

Bolero de Ravel em Nova Roma, romance do jornalista e escritor Geraldo Muanis, chegou às minhas mãos como um presente do autor, amigo com quem tive a feliz oportunidade de trabalhar quando atuava como jornalista em Juiz de Fora, nossa cidade natal. A vida logo nos colocou em caminhos diferentes, mas, por sorte ou mérito, nossa amizade teve o poder de vencer a distância e de resistir à prova do tempo.

Muitos anos se passaram até nos encontrarmos novamente para um café, alguns meses atrás, durante uma breve visita que fiz à minha cidade. Colocamos a conversa em dia, nos asseguramos que o nosso abraço ainda pode ser apertado e mais uma vez nos dissemos adeus, certos de que “amizade é um amor que nunca morre”, como disse sabiamente o poeta Mário Quintana. Acenei até breve ao meu amigo e desse encontro trouxe comigo a imagem de alguém que nem o tempo, nem as dores ou conquistas conseguiram mudar. Além disso, um pequeno grande tesouro, dois de seus romances mais recentes.

Inicialmente pensei que, dada a amizade, não haveria como eu fazer uma resenha imparcial sobre os seus livros, como deveria ser. Mas, ao chegar à metade de ‘Bolero de Ravel em Nova Roma‘, a decisão já havia sido tomada: SIM, para os quintos os críticos de plantão, nem que seja uma análise (muito pessoal) dessa narrativa vou fazer para o meu blog. E assim nasceu esse post, de uma velha amizade, de um doce reencontro, de um amor que nunca morre, de um livro em que Muanis lança mão da ficção para mostrar a realidade ou talvez apenas para enfatizar a sobreposição de ambas.

O romance foi lançado em dezembro de 2017 - Capa do artista plástico Jorge Arbach.

Qualquer semelhança é mera coincidência

Bolero de Ravel em Nova Roma é uma obra dinâmica que turva a fronteira entre ficção e realidade. Ela me conduziu em uma viagem através das minhas memórias, trazendo flashbacks dos bastidores do jornalismo, além de despertar saudades de um tempo que não voltará mais, de convívio entre colegas nas redações de jornais e assessorias. Também me fez recordar de fatos já enterrados pelo tempo e revelou outros para mim inimagináveis, nos quais foi possível reconhecer determinados personagens e lugares, tão fictícios e ao mesmo tempo tão reais. Folheando o passado apenas para encontrar o presente.

Não estou dizendo que o livro seja dirigido a um público específico, ao contrário, ele é para ser lido por todos. É uma história frenética, bem escrita, que expõe a profunda visão que o autor tem da própria interioridade e de tudo aquilo que o circunda. Muanis mostra-se crítico, criativo e sensível e me arrancou até uma sonora risada com a “história” do Mickey (para conhecê-la, compre o livro!). Por experiência, sabe que a vida é feita de momentos e que viver é colher os momentos mágicos que nos são concedidos como dádivas, enquanto o mundo gira no ritmo dos interesses políticos e mediáticos, que para perpetuar o ‘phoder’ (como gosta de frisar), sustenta um círculo vicioso semelhante à roda dos ratos.

Uma versão perversa da sinfonia de Ravel, assim ele define sua obra e acrescenta: “Que o compositor francês Maurice Ravel não se revire no túmulo  com essa versão perversa, sob a forma do Mal, dentro de uma estrutura desarmônica que não muda nunca. Os compassos se alternam da mesma forma que a gangorra política, vinte, trinta, quarenta anos, com a sempremesma cantilena, as sempremesmas mentiras e promessas. E nada muda.” Segundo Muanis, o sublime ‘Bolero de Ravel’ com suas notas repetitivas levam a um êxtase final que lamentavelmente não acontece em Nova Roma.

“Aqui ele adquire os contornos de uma mesmice inquietante e inócua, sob os compassos satânicos e repetidos da ladroagem e da corrupção. Com o mesmo circo, mas cada vez com menos pão. E o futuro nunca chega”, ele se queixa. Deve-se ressaltar imediatamente que qualquer referência a fatos ou pessoas existentes é certamente fruto da imaginação do leitor.

 

Geraldo Muanis nasceu em Juiz de Fora em 18 de junho de 1959. Formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora e trabalhou em diversas assessorias e jornais da cidade como a Tribuna de Minas, Tribuna da Tarde, Panorama e JF Hoje. Já publicou vários livros entre eles os romances, ‘Sinfonia solitária em Dor-Maior’, ‘Se você souber, os olhos não mentem’, ‘Os últimos dias de Nova Roma’, ‘Teu corpo é uma estátua que gira no centro de minha mente’ e ‘Histórias REAIS que Nossas Babás não Contavam’, disponível na Amazon.

 

 

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